São Francisco: 15% já morreu?

Movimentos sociais reagiram nos últimos dias à viagem de Lula para visitar a obra da transposição do rio São Francisco. Na semana passada, o Governo divulgou que concluiu até agora 15% do prometido e o presidente foi visitar o Norte de Minas e o Nordeste, berços da transposição.

Há ainda os que resistem e insistem em tentar conter a obra como a Articulação São Francisco Vivo que está realizando mobilização, através de petições populares, relatório-denúncia e manifestações públicas. Eles querem pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF) a julgar ações pendentes contra o projeto de transposição, em especial as que tratam das terras indígenas afetadas.

Segundo os integrantes da Articulação Popular São Francisco Vivo, as obras de transposição do rio São Francisco, implementadas pelo Exército, ignoraram leis de proteção de áreas indígenas. Segundo a Constituição, é necessário o aval do Congresso Nacional liberando o uso das terras em obras desse tipo. "Desde o seu começo em 2007, 33 tribos indígenas estão sendo afetadas pelo empreendimento. Diretamente são quatro, os Truká, os Tumbalalá, os Pipipã, os Kambiwá."

A Articulação denuncia ainda os impactos sociais da chegada da obra de transposição nas cidades, como aumento do número de mulheres grávidas.

Já o ex-presidente da Comissão Pastoral da Terra, Tomaz Balduíno, em Editorial na Folha de São Paulo do dia 25, apontou que o problema da falta de água no semi-árido é a distribuição e não água em si. Segundo ele um projeto alternativo bem mais barato foi abafado: a implantação de cisternas. “Enquanto a transposição atenderia 12 milhões de pessoas em quatro Estados, segundo dados oficiais, o projeto alternativo atenderia 44 milhões em dez Estados. Custo: metade do preço da transposição.” Na opinião de Balduíno, as obras faraônicas deveriam ser substituídas por soluções que incorporem o conhecimento local e que considerem as tecnologias que o povo descobre para lidar com seu ambiente, a partir de sua realidade. Segundo o artigo, “um pedreiro sergipano inventou a tecnologia revolucionária das chamadas cisternas familiares de captação da água de chuva para o consumo humano. Em mutirão já foram construídas 290 mil cisternas como parte de um projeto de 1,3 milhão de cisternas para captação de água da chuva.”


E mais gente também andou revisitando as reflexões sobre a transposição. O Projeto Manuelzão, de revitalização da bacia do Velhas, afluente do Velho Chico em Minas Gerais, divulgou artigo do geólogo Edézio Teixeira carvalho, publicado no Jornal O Tempo. Reflexões sobre as questões físicas do São Francisco, que se confrontam como poesia bucólica, para os amantes do Rio da Integração Nacional.

“Por aqui: Onde nasce o São Francisco? Na serra da Canastra, ora! Não! O São Francisco não nasce, nasceu no litoral entre Sergipe e Alagoas. Assim diz a geomorfologia. Assim diz a geologia física. Assim diz a física em sua mecânica dos fluidos. Pela física: Como poderia a primeira gota d’água, tendo sido dada à luz na serra da Canastra, chegar ao Atlântico percorrendo o famoso leito e abrindo-o por suas próprias forças? A física diz que outras abriram caminho para ela, de baixo para cima, do litoral para o interior do continente. A geologia diz que a erosão remontante foi escavando o famoso leito, de baixo para cima. A geomorfologia diz, de forma um pouco mais elegante, que o São Francisco foi conquistando sua bacia por sucessivas capturas fluviais, e diz ainda que na insondável profundidade do tempo geológico por vir, poderá até capturar o rio Grande
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Geólogos e geomorfólogos deveriam entrar em acordo para desfazerem essa confusão de conceitos dizendo que os rios nasceram em suas fozes e o que lhes chamamos nascentes são de fato o ponto mais afastado, mais alto, mais distante da foz a que conseguiram levar seus leitos sob o império do desequilíbrio entre forças e resistências continentais.”


(Fontes: Ecodebate, Articulação Popular São Francisco Vivo, Projeto Manuelzão, Folha de São Paulo e Jornal O Tempo)

Um comentário:

Andre Rossi disse...

Marina, adorei seu blog, suas matérias são muito boas e pertinentes.

Aproveito para convidá-la ao nosso fórum de gestão ambiental, onde especialistas da área (ou não) discutem sobre temas ambientais.

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