Catadores e a crise


Washington Novaes é mesmo uma referência em termos de jornalismo ambiental.

Sempre vem com uma novidade, um questionamento e embasado em muita informação.

Lá veio ele com mais uma reflexão: em meio a crise econômica global, os profissionais da coleta seletiva também foram atingidos; um paradoxo se pensarmos que com a crise o que deveria diminuir de fato é o consumo de matérias-primas tiradas diretamente da natureza. Os resíduos deveriam continuar sendo reaproveitados.

A cultura do reaproveitamento, inclusive, poderia ser uma saída para crise. Ao invés de exaurir a natureza gastando recursos para extrair matéria-prima, investir, nesse momento, em produções ecológicas, com matérias-primas reaproveitadas.

Muitos empresários têm percebido nesse momento uma oportunidade para reavaliar seus empreendimentos, remodelando as empresas para atender aos desafios da sustentabilidade. Com dois ou três cliques, dá para se informar um pouco sobre isso. Que tal Mercado Ético? Depois eu indico mais...

Mas voltando ao Washington Novaes, abaixo um excerto de seu artigo que pode ser lido integralmente no Estadão.

Foto Ministério das Cidades

"É um assombro ler no jornal (Estado, 13/2) que há uma crise na coleta seletiva de lixo em São Paulo e que a maioria das cem cooperativas de catadores reduziu em dois terços suas atividades, por causa da queda brutal nos preços dos produtos que vende. Nem é preciso ser muito informado para deduzir que se agravará o problema da coleta geral do lixo na cidade, que produz mais de 12 mil toneladas diárias de resíduos domiciliares e comerciais e está com seus aterros esgotados. E o próprio coordenador da coleta seletiva admite que pelo menos 20% do que já vai para aterros seria reaproveitável. Desperdício que vai aumentar, já que os catadores, no País, respondem pelo encaminhamento às empresas recicladoras de cerca de um terço do papel e papelão, uns 20% do plástico e do vidro, mais de 90% das latas de cervejas e refrigerantes.

Tudo fica ainda mais difícil de assimilar quando se raciocina que, com uma crise de recursos como a que engolfa o planeta, materiais mais baratos (como os reaproveitáveis e recicláveis) deveriam, em princípio, ser valorizados. Da mesma forma, quando se lembra que em grande parte do mundo aterros nem podem mais existir, pela legislação - enquanto nós continuamos a depositar em lixões a céu aberto mais de metade das 230 mil toneladas recolhidas a cada dia (IBGE); e pouco mais de 10% chega a aterros adequados. E ainda não é tudo. Este jornal informou também (2/2) que a construção civil gera na cidade 17 mil toneladas de resíduos por dia e que parte deles vai para 1,4 mil pontos irregulares, fora dos "ecopontos". Só 1% dos resíduos é reaproveitado (90% na Holanda). E provavelmente nada se resolverá tão cedo, já que a licitação para quatro aterros de entulhos (124 mil toneladas/mês) está embargada pelo Tribunal de Contas do Município, uma vez que o preço ali previsto está 34% acima do que é pago hoje."

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