Os liberais em tempos de crise

"Os liberais não são otimistas, mas realistas. Dizemos que o caminho do desenvolvimento existe, em todas as civilizações. Este caminho é caótico como são as sociedades humanas: a economia não é melhor do que o homem. Além disso, as crises são inerentes ao crescimento porque este se fundamenta na inovação: a inovação não aparece todo dia. A crise atual não questiona, portanto, o realismo liberal. Os idealistas, por sua vez, procuram um sistema perfeito. Eles têm o direito a isso, mas eu desconfio." Resposta de Guy Sorman, um liberal convicto, em entrevista à Cult.

Faz sentido. O que não dá para negar é que o cara é polêmico.

Para ele, essa crise não abala em nada o liberalismo e logo ela estará resolvida, se não houver intervenção excessiva do Estado. E eu achando que depois dessa crise esse tipo de discurso não tinha mais lugar...

"A intervenção do Estado na economia não é uma questão teológica. É uma questão prática. Existem intervenções justificadas como a emissão de moeda pelos bancos centrais para que o crédito continue. Mas intervenções podem ser prejudiciais se acarretarem em inflação ou se impedirem a criação de novas atividades. O mais eficaz em tempos de crise é favorecer a inovação, com Estado ou sem Estado. Keynes não tinha compreendido, em sua época, que o motor do crescimento era a criação destruidora; foi Schumpeter quem compreendeu isso."


Que é isso de motor do crescimento ser criação destruidora? Algum economista pode me explicar? Achei que agora seria o momento de resgatar Keynes e as soluções que ele propôs para a crise de 1929.

Eu realmente perto desse cara devo parecer um dinossauro comunista.

Ou não... Enfim, o que penso é que as coisas se resolverão naturalmente pela adoção de novas práticas: o agir localmente, as produções sustentáveis, o consumo consciente. A globalização deve evoluir para um paradigma em que a informação circula de forma rápida e abrangente, mas os consumidores vão cada vez mais querer incentivar boas práticas locais comprando produtos que respeitem as famílias produtoras, não mascarados pelas grandes marcas. A remuneração diferenciada do trabalho físico e do trabalho intelectual vão ser coisa de Grécia Antiga. A cada um vai caber lavar a própria roupa, limpar a própria casa e plantar um pé de couve se necessário.

Pra mim, essa é a Era de Aquário. No plano das idéias, não acho que essa proposta de resolução para a crise é completamente oposta às idéias liberais. O problema é quando se parte para a prática. Aí começam a surgir as divergências.

Para ler a entrevista na íntegra, acesse o site da Revista Cult. Foi de lá que eu tirei essas falas do economista.