"Não capinamos o mato, mas apenas roçamos e deixamos ele ir se tornando adubo sobre o solo."

Cobertura morta ou "mulch": princípio do plantio que conserva o solo e seus microorganismos. O solo é vivo! Os bichinhos também precisam de telhado!


Tem sido uma rica experiência para mim ir a campo nas lavouras de café no Leste de Minas.

Acreditem: é difícil achar lavouras não envenenadas por agrotóxicos. A assistência técnica chega a menos de 5% dos agricultores, segundo um Secretário de Agricultura que entrevistei. Aos outros 95% dos milhares de agricultores que vivem da venda do café, resta a consultoria de agrônomos que trabalham nas lojas, que vendem os insumos. E aí a comissão ($$) pela venda de agrotóxicos fala mais alto, além de uma mentalidade, já inculcada nos profissionais desde a faculdade, de que agricultura se faz com o pacote: máquinas, monocultura, semente híbrida e agrotóxicos.

Mas sim, ainda é possível encontrar exemplos que salvam como o da família a seguir.

Debulhando sementes de açaí. Filhos dos agricultores(as) Márcio e Mara não pensam em sair do campo.
Já comeram do açaí colhido na própria propriedade, no Leste de Minas, e agora pretendem plantar mais.


Café de alta qualidade beneficiado na propriedade, leite, rapadurinha, milho e lavouras de subsistência. Na casa do agricultor Márcio Antunes e da agricultora Mara Rúbia, de Córrego do Mutum, município e Santana do Manhuaçu,  a palavra é DIVERSIFICAR, para não ficar refém das variações de preço de um único produto. "Se eu seleciono meu café e vendo ele já para o consumidor final, eu posso ganhar mais no preço e fico mais independente do mercado. Investindo também na rapadurinha e no açúcar mascavo pretendemos criar outras fontes de renda e diversificar."-diz Márcio

Não faltam na alimentação do casal e seus 5 filhos alimentos de qualidade: inhame, mandioca, hortaliças, frutas, produzidos no local. : “Na nossa lavoura, as pessoas tem coragem de ir colher uma taioba ou uma fruta, pois no meio do nosso café não temos veneno”, conta Mara Rúbia

O casal acredita que a natureza é um organismo vivo, que funciona da mesma forma que o corpo humano. "Se o corpo é bem nutrido, forte e se alimenta bem, não vai ficar doente. Da mesma forma, acontece com a roça. Por isso, nossa lavoura é coberta de muita matéria orgânica. Não capinamos o mato, mas apenas roçamos e deixamos ele ir se tornando adubo sobre o solo."


O casal Márcio Antunes e Mara Rúbia e seu pé de coco carregadinho.
Quem disse que coco não dá nas montanhas? Mas só em propriedade agroecológica

“Não dá para o pequeno produtor achar que pode produzir da mesma forma que os latifúndios e a monocultura. Nas pequenas lavouras de café, depois de aplicar o veneno, é o próprio produtor e sua família que entram no campo para colher. No hospital especializado aqui da nossa região, os médicos estão alarmados com a quantidade de casos de câncer.” Márcio Antunes, agricultor


Agradecimentos à Rede de Intercâmbio de Tecnologias Alternativas, Ong que tem me proporcionado esse trabalho jornalístico. Para ver o que temos feito, acessem os links do Projeto Sustentar em www.redemg.org.br


Nenhum comentário: