Consumo e crueldade

A questão “comer ou não comer carne” tem muitas vezes a ver com a pessoa optar pela não-crueldade com os animais.

Sabemos que muitos dos ovos e carnes que ingerimos vêm de animais criados em gaiolas e currais fechados, prendidos em confinamento, que crescem em locais onde são incapazes de até se mover e andar. E isso sempre, ouvintes, é especialmente intrigante porque não se sabe dentro do supermercado a procedência e o modo de produção da carne que se come.

Na Califórnia, uma emissora de TV[i] conseguiu filmar isso. Mostrou como eram produzidos 95% dos frangos e a maioria da carne do porco e do boi consumidos no estado. Na reportagem, os frangos aparecem em gaiolas de 6 em 6, não conseguem esticar as próprias asas e nem ver a luz do dia. Os porcos vivem em gaiolas individuais onde o movimento possível é deitar e levantar, sem saírem dessas gaiolas nem para parir.

É fato que nenhum de nós sai ileso depois de entrar numa grande fábrica onde vivem 100.000 galinhas piando no seu ouvido, presas dentro de jaulas minúsculas onde mal conseguem se mexer e nas quais passam toda vida. Não vou citar aqui como seria o caso dos porcos e das vacas para não me alongar.

Como opção para não consumir carnes e ovos com esse tipo de proveniência, surgiu, dentro da idéia de consumo consciente, o tal ovo e frango caipira e a carne certificada. Nesse modo de produção, os animais são criados livres, em locais abertos onde podem caminhar, dormir e comer quando querem.

Só que o fato é que esses produtos são mais caros, inacessíveis para grande parte da população. São, na verdade, produtos de rico.

Nos Estados Unidos, a solução foi propor uma lei que proíbe a criação de animais em espaços confinados pela vida inteira. Assim, os produtores seriam obrigados a produzir carne de forma mais livre e com menos crueldade. Frangos, porcos e vacas criados sem ser presos, em grandes áreas abertas, a preços acessíveis para toda a população.

A questão suscitou uma série de respostas: os produtores convencionais afirmaram que não conseguiriam arcar com os custos de tal mudança, que a Califórnia não teria espaço suficiente para produzir os 25 bilhões de ovos que o povo de lá consome por ano se a galinhas ficarem todas soltas e livres como querem os produtores não-convencionais.

Surgiu ainda a solução de que, se a sociedade americana inteira optasse por consumir ovos caipiras talvez, os próprios consumidores conseguiriam fazer com que os ovos caipiras e carnes certificadas passassem a ser mais produzidos pela indústria de alimentos. E assim, com mais produção criar um preço mais baixo para que todos possam consumir esses produtos; um movimento de pressão da sociedade civil pelo consumo consciente. [ii]

Mas o que está mesmo puxando a discussão dessa forma é a tal lei que vai proibir a criação de animais em espaços de confinamento, obrigando os produtores a criarem os animais soltos.

No Brasil, são outros quinhentos...



[i] Eu sei que essa referência é ridícula, mas o fato é que isso foi uma reportagem “The Oprah Winfrey Show”.

[ii] Me fala uma coisa, porque você acha que existe essa coisa de rico e pobre?

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