(ÁGUA) Desafios, propostas e modelos transformadores para as monoculturas da mente

Relatório da Onu alerta que até 2030 a demanda por água doce no planeta será 40% maior do que a oferta.

“O problema aponta oportunidades. O problema é a solução.” Marsha Hanzi, Bill Mollison e permacultores/as de todo o mundo.


Mineroduto: água jogada ao mar para levar minério de baixo valor agregado aos chineses. Depois a gente paga para esse minério voltar na forma dos produtos chineses que inundam nosso mercado e causam baixa concorrência em nossa indústria.


Monoculturas agrícolas e pecuária são responsáveis por 70% do gasto total de água no planeta. Os sistemas de produção ligados ao agronegócio, dependentes de irrigação mecanizada, em grande escala e com apenas um cultivo por grandes extensões de terra, tendem a gerar grandes taxas de evaporação e baixos níveis de infiltração de água no subsolo. 


O experimento acima mostra a relação entre a supressão da vegetação nas montanhas e a morte dos rios.
É o que acontece com as terras tomadas por pastos para gado, monoculturas do agronegócio e mineração.



A insustentabilidade das monoculturas de soja e outros grãos, além da pecuária, fica também comprovada pelo dado de que, para cada 1 caloria de alimento que se deseja produzir nesses sistemas, gastam-se outras 40 calorias em forma de petróleo, gás ou energia elétrica e termoelétrica, distribuídas em sistemas de transporte, combustível, tratores, adubos químicos, irrigação, venenos e sementes transgênicas.

São sistemas insustentáveis, que só tem produzido superávit até agora, porque são subsidiados pelos governos pagando baixos impostos, que não contabilizam os prejuízos à sociedade, à distribuição de terras e aos recursos naturais do país, que, como é óbvio, já começam a sinalizar sua exaustão. 

Os sistemas inteligentes, que também chamamos de permaculturais, são permanentes e produzem mais energia do que consomem. Por isso, eles imitam os sistemas naturais, onde todo o resíduo não é descartado, mas reaproveitado, tornando-se insumo para a produção de nova vida. LIXO É LUXO. 



EXEMPLOS PRÁTICOS
Jatobá, em foto de Marcos Guião. A farinha de seus frutos tem sabor doce, que, quando separada da casca do fruto, dá um alimento de alto valor nutritivo para ser adicionada em pães, granolas e bolo, podendo ser produzida localmente em áreas de Cerrado. Altamente, medicinal trata e previne problemas respiratórios. Inúmeras outras farinhas podem ser produzidas com frutos locais, incluindo o melhor aproveitamento da farinha de mandioca em tapiocas. Cabe perguntar: por que adotamos então a farinha de trigo, muitas vezes importada ou produzida longe, como base alimentar nas grandes cidades?

Com as técnicas e as visões de mundo da agroecologia, dos sistemas agroflorestais e da permacultura, hoje já temos certeza que produzir alimento com fartura em cada comunidade e biorregião é uma realidade possível. Na nossa comunidade, um vilarejo no interior de Minas, temos tido sucesso nesse desafio, fazendo questão de comprar alimentos produzidos pelos agricultores/as locais, organizando-nos em grupo de almoço que consome alimentos de horta comunitária, em iniciativas de organizações locais e da sociedade civil que apoiam os/as agricultores/as familiares através da compra de cestas semanais de hortifrútis. Ovos e queijo fazemos questão de comprar do lugar e saber como foram produzidos: se em galinheiros domésticos e pequenas propriedades onde o impacto ambiental do pasto e da compactação de nascentes pode ser diretamente corrigido e manejado.

O fato é que nas roças e zonas rurais, onde os/as agricultores/as ainda permanecem fruta perde no pé. Não falta alimento. Mas é preciso comer o que tem, adaptar-se a um estilo de alimentação diferente e obedecer a um princípio muito importante da permacultura que é Valorize os recursos locais”.


CSA - Comunidade que Sustenta a Agricultura.
em Belo Horizonte.

Já na cidade o desafio de produzir alimentos localmente é maior, mas não impossível. Destaca-se em Belo Horizonte (MG) o movimento da agricultura urbana, a organização da sociedade civil em feiras de orgânicos e agroecológicos, a iniciativa de formar uma CSA-Comunidade que Sustenta a Agricultura que entrega cestas de alimentos também está forte. Será fundamental nesse processo de transição (ver também o movimento Transition Towns), mudar o paisagismo urbano: dar lugar a árvores frutíferas e jardins produtivos. Construir praças e áreas verdes que também sejam úteis para o fornecimento de alimentos, obedecendo a um outro princípio da permacultura que desponta como solução para criar abundância e multiplicar nossos recursos que é o da multifuncionalidade: um elemento do sistema deve ter sempre pelo menos mais de uma função. Uma praça não é apenas local de lazer. Quantas outras inúmeras funções ela pode ter. Um telhado não é apenas tehado, pode também ser horta, e captar água, reduzindo também as enchentes nas grandes cidades e o desperdício de escoar a água diretamente para o rio sem antes aproveitá-la melhor.

MINERAÇÃO

Outra atividade econômica fortemente ligada à exaustão das águas é a mineração. Sabe-se que a quantidade de água no planeta não aumenta nem diminui. Por que então as crises de seca que a região Sudeste tem enfrentado?

Montanha ao avesso.


A questão é a interferência humana no ciclo da água e a aceleração de seu ciclo de chegada ao mar. E por isso, retirar o ferro e as rochas impermeáveis do alto das montanhas tem um grande impacto. A água que deveria ser freada e retida no alto o maior tempo possível, por meio de lençóis subterrâneos que se transbordam em nascentes, vai sendo rebaixada, exposta e contaminada pelos grandes buracos de mineração. Os rios deixam de ser abastecidos. A água escoa para o mar, ao invés de ser armazenada pelo "efeito esponja" que acontece quando a terra está coberta de florestas e montanhas, como prevê o Código Florestal para os topos de morro. 

Em Minas Gerais, nas "caixas d´água naturais" do Estado, que abastecem as principais bacias do Sudeste, Sul e Nordeste do país, já não se pode mais negar o impacto da mineração. Veja mais na entrevista a seguir com o geólogo Paulo Rodrigues.




ESPERANÇA

Se desejamos criar empregos, renda e girar a economia do país, urge repensar nosso modelo de desenvolvimento. A permacultura já dá a dica: pela observação de como funcionam nossos sistemas naturais e os padrões de design da natureza, além do resgate dos saberes de nossas sociedades anteriores, sociedade que foram milenares e não apenas centenárias como a nossa cultura atual.





Meu forte abraço!

Marina Utsch

REFERÊNCIAS:

- Rede de Intercâmbio de Tecnologias Alternativas
- Instituto de Permacultura EcoVIDA São Miguel
- Funivale (Grupo Terra Mãe) - Fundação pró emancipação do homem e da mulher do Vale do
Jequitinhonha
- CSA - Comunidade que Sustenta a Agricultura-BH
- AMAU - Articulação Metropolitana de Agricultura Urbana de Belo Horizonte
- AUÊ - Grupo de EStudos em Agricultura Urbana UFMG
- Rede Terra Viva - BH

6 comentários:

Unknown disse...

Oi Marina! Mto pertinente seu texto!
Estou participando da CSA-BH e fiquei feliz de ver a citação aqui. Realmente, tem sido uma experiência transformadora.
Bjs!
Mayumi

Unknown disse...

Oi Marina! Mto pertinente seu texto!
Estou participando da CSA-BH e fiquei mto feliz de ver a citação aqui. Realmente, tem sido uma experiência transformadora!
Bjs!
Mayumi

Mar McQuade disse...

Marina muito grata por esse seu artigo, fantástico e tão verdadeiro. precisamos mais e mais gente divulgando essas verdades sobre tudo mas principalmente sobre a falta d'água e onde isso tudo começa... gratidão

ludson disse...

Excelente seu texto Marina!. Indo um pouco mais profundamente nos problemas, existe algo que é funcional, da própria civilização, que é a divisão de trabalho em tempo integral, sociedade de massas e importação de recursos... e esse conjunto gera hierarquias complexas, guerras, miséria (social e ambiental), opressão social e alienação.
Só uma vida mais simples, o retorno ao campo, pequenas vilas auto-suficientes podem resolver essa questão.
Se existe mineração á campo aberto e barragens hidrelétricas, é porque estamos usando esse computador para escrever nesse momento... lembre-se disso. Tecnologias complexas só podem existir no modelo de civilização industrial vigente.. A civilização é e sempre foi o problema em todos os povos que adotaram essa forma de viver...
Não existe solução para as cidades

Elisa Tonon disse...

Olá Marina,
estou recebendo as apostilas de permacultura e muito feliz por ter acesso a todas essas informações! Sinto que tenho um 'suporte' pra minha descoberta de fazer horta e tentar implantar esses princípios no meu quintal.
Muito obrigada! Grande abraço,

Elisa

Unknown disse...

Oi Marina, obrigada pelas apostilas e por informações sobre os problemas que enfrentamos, dando uma luz sobre o caminho a seguir. A permacultura pode salvar o planeta e estou tentando aprender para fazer a minha parte! Começando no dia a dia do lar, na mudança em relação ao consumo reduzindo ao máximo os produtos industrializados; plantando minha própria horta; comprando hortifruti de produtores locais agroecológicos; coletando água da chuva; fazendo comida natural para meus cães, etc. Aguardo os próximos artigos! Abraço, Cecília.