RIO + 20: resultados colhidos e possibilidades semeadas



                     
A Rio +20 foi a Conferência Oficial. Supunha-se que os governantes, representantes de órgãos oficiais e instituições afins se comprometeriam com um projeto de desenvolvimento no qual o meio-ambiente é sujeito de direitos. A sociedade organizada esperava que o respeito aos bens naturais fosse considerado como um pressuposto ético, acreditando que o meio-ambiente não é algo que deva ser preservado apenas para que continue sendo explorado, numa relação predatória e sem ética com o organismo Terra.

Mas, na avaliação da Cúpula dos Povos, evento paralelo à Rio + 20 que reuniu mais de 20 mil pessoas por dia representando a sociedade civil e os movimentos sociais, isso não aconteceu. Segundo Leonardo Boff, líder ambientalista que discursou em diversas plenárias da Cúpula, os debates da Conferência Oficial continuaram dentro do discurso do desenvolvimento econômico, e não se pôde alcançar uma discussão elevada no sentido do respeito à natureza, pois em nenhum momento existiu espaço para a discussão principal que permeia uma nova visão de mundo: a ética e a espiritualidade.


Leonardo Boff na Cúpula dos Povos.
Foto: Revista Radis-Fiocruz/Sérgio Eduardo de Oliveira



Dentre as atividades da Cúpula (e fora da Rio +20), modelos de desenvolvimento alternativos como as ecovilas e a educação para um novo tempo, a agroecologia como proposta alternativa ao agronegócio, o resgate de saberes dos povos tradicionais e a valorização dos indígenas, quilombolas, agricultores familiares; a diversidade de saberes e a unidade nos valores de respeito e solidariedade.  Nas plenárias da Cúpula, não houve aprovação  à “economia verde”, termo criado para sintetizar a proposta da Conferência Oficial, que sugere uma adaptação do sistema atual para as necessidades ambientais e não uma mudança estrutural, como defendem os movimentos sociais e sociedade civil organizada. Questionou-se o PIB (Produto Interno Bruto) como indicador do desenvolvimento de um povo e apresentou-se o FIB (Felicidade Interna Bruta) como forma de medição mais eficiente.

Os movimentos sociais elaboraram um documento alternativo ao documento da Conferência Oficial. Da Rio + 20 saiu “O futuro que queremos”. Da Cúpula dos Povos, A “Declaração Final em Defesa dos Bens Comuns econtra a mercantilização da vida”, além da discussão de 5 plenárias apontando causas estruturais de paradigmas atuais e possíveis soluções.


Marina Silva

Marina Silva na Cúpula, em foto de Paulina Chamorro.



Com um discurso envolvente que sintetizou os anseios da sociedade civil que participou da Cúpula, Marina Silva conquistou plenárias lotadas. Ela falou da Teologia da Libertação como seu referencial ético na política. Homenageando Edgar Morin, citou a necessidade de processos multicêntricos e do diálogo de saberes. Questionando a Conferência Oficial onde engravatados de preto refletiam nas vestimentas a pouca diversidade de saberes em diálogo, Marina propôs um deslocamento do centro de poder; do centro estagnado para a borda, criando novos centros.

Mas avaliou como positivo tudo que aconteceu, principalmente a participação das pessoas. Estávamos ali todos mobilizados, um Brasil que compareceu, e não era por Carnaval ou futebol. Pois, citando Vitor Hugo, não há como deter uma ideia cujo tempo chegou.

Ela falou contra as dicotomias; contra a oposição.  Não é disso, segundo ela, que o mundo precisa. O que é necessário é posição. E foi contra as ideias “pragmáticas, objetivas, realistas”. Disse que precisamos ser sonhadores. Afirmou que se ela fosse “pragmática, objetiva e realista” não estaria ali, não teria chegado aonde está. Que a luta de nossa juventude é essa: passou “O petróleo é nosso”, o novo exige “As florestas são nossas”. E por fim, mandou um recado “amoroso” a presidenta Dilma - e ao incluir a amorosidade em seu discurso deu uma demonstração clara de que está afinada com a luta da nova juventude, que exige um posicionamento ético e uma relação com a espiritualidade - : “Brasil Urgente! O planeta está doente!”


Voltando à política – uma análise em 1ª. pessoa
Depois de sonhar com a clara emergência de uma nova liderança afinada com o pensamento sistêmico e respeitadora das diversidades, sou levada a naufragar na lama. Nada é perfeito, especialmente na política, onde por mais de 500 anos permanece atual o princípio maquiavélico.


O político Zé Fernando e a cachoeira do Tabuleiro. Sua propaganda de campanha diz que ele foi um dos reponsáveis pela preservação dessa riqueza ambiental da região de Conceição do Mato Dentro. Por outro lado, a chegada da mineração poluiu inúmeros outros cursos dá água e nascentes, conforme relatos e videos, que podem ser vistos aqui


Segundo integrantes de movimentos sociais que criticam a mineração indiscriminada no território mineiro, Marina apoiou nas últimas eleições a candidatura ao governo estadual de José Fernando Aparecido (PV), ex-prefeito de Conceição do Mato Dentro de 2000 a 2006, quando foi aprovada a entrada da mineradora MMX na cidade, comandada por Eike Batista. A fortuna de Eike, contabilizada entra as maiores do mundo, foi conseguida por meio de um esquema de compra barata de terrenos rurais que depois eram vendidos para exploração mineral. Hoje nas mãos da Anglo Ferrous (braço brasileiro da Anglo American), a mineração em Conceição do Mato Dentro, é conhecida como um dos piores negócios para a  população local, conforme noticiou até mesmo o Jornal Estado de Minas. A cidade de Conceição inchou e tem de arcar com inúmeras dificuldades ambientais e sociais. As condicionantes que a mineradora deveria cumprir até hoje não foram cumpridas; ou seja, exploração sem compensação.

A campanha de Zé Fernando teria sido financiada por Eike Batista, e Marina Silva estava a par disso quando resolveu apoiar a candidatura dele ao governo de Minas.

E é claro que não há unanimidades e o conceito de desenvolvimento varia conforme o grau de recursos e grau de informação de cada um. No município de Conceição, muitas pessoas apóiam a mineração dizendo que, com a chegada de mais gente na cidade, a economia melhorou. "O concencionense agora pode ter uma casa própria, TV e carro"-disse um primo meu nascido em Conceição que defende também o político Zé Fernando.


Fontes:

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