Belo Monte e a economia do "eu quero mais"


Não, não temos que fazer mais hidrelétricas. Nem sequer necessariamente precisamos de mais energia do que temos hoje, pelo menos não a médio e logo prazo, se usarmos tecnologias mais eficientes. Mas se nos esquecemos que todas essas coisas na verdade são escolhas e não necessidades, isso é porque a mentalidade de querer sempre mais foi tão profundamente inculcada em nós. Na década de sessenta, as pessoas diziam que queriam um mundo melhor. Hoje, a cantora Claudia Leitte reflete as aspirações de grande parte da sociedade quando diz, num comercial na televisão, “eu quero mais”, se referindo a algumas bugigangas de celular. O querer mais, de certa forma, sustituiu para muita gente o querer o mundo melhor, nesta época tão sem utopias. Sempre mais, nos dizem - temos que querer mais, como aquelas pessoas sorridentes na televisão sempre querem mais. Eu, que nem celular tenho, e sou muito feliz assim, não consigo me livrar da pergunta: a gente quer mais ou quer ser feliz? É curioso, e quem sabe valioso, notar que em vários estudos realizados não houve correlação entre a felicidade e o PIB per capita dos países. Quem sabe porque, como disse uma vez Robert Kennedy, “O produto interno bruto mede tudo, em resumo, menos aquilo que faz a vida valer a pena.”


Mas será que nós, os ambientalistas, queremos só criticar, ou temos alguma alternativa para oferecer? Existem, sim, várias alternativas já propostas ao nosso modelo atual de desenvolvimento baseado em crescimento contínuo, que é tão obviamente insustentável. Seria longo demais descrever essas alternativas aqui, mas um punhado de brilhantes livros recentes - “Economia para um planeta abarrotado”, de Jeffrey Sachs, “Nossa escolha”, de Al Gore, e “Quente, plano e lotado”, de Thomas Friedman - são todos altamente positivos. Eles apresentam soluções criativas e inovadoras para os problemas do mundo atual, e alternativas para obter uma nova economia estabilizada, que seja verdadeiramente - e não apenas em discurso vazio - sustentável. Não por coincidência, todos eles defendem economias onde o objetivo não deve ser mais meramente maximizar a quantidade do que é produzido, mas sim a qualidade de vida, entendida de uma maneira muito mais ampla, da qual um ambiente saudável é componente essencial.

“Nada tem que ser feito” é muito diferente de “não temos que fazer nada”. Temos, sim, muitíssimo que fazer. Mas isso não quer dizer que hidrelétricas ou o que quer que seja precisem ser feitas. Temos outras escolhas, se formos capazes de vê-las.

Será que a gente precisa mesmo de mais hidrelétricas e menos biodiversidade nesse mundo? É esse o mundo que a gente quer? Eu só sei que esse não é o mundo que eu quero. Precisamos urgentemente aprender a pensar menos em quantidade e mais em qualidade: na qualidade das coisas que usamos, na qualidade ambiental, na qualidade das nossas vidas. Quantidade não é tudo. Mais nem sempre é o melhor.


Fernando Fernandez é biólogo, PhD em Ecologia pela Universidade de Durham (Inglaterra). Professor do Departamento de Ecologia da UFRJ, seu principal interesse em ensino e pesquisa é a Biologia da Conservação.

Fonte: O Eco

No dia 10 de junho, às 19h, Fernandez ministrará palestra "O Mito do Bom Selvagem", evento realizado pela Amda no auditório do CREA-MG (Av. Álvares Cabral, 1600, andar 1S - Santo Agostinho). As inscrições são gratuitas. Para mais informações: eventos@amda.org.br

Recebi o artigo acima reproduzido em parte aqui no blog no Informativo da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda).

Ele faz uma crítica a uma pessoa que defende a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte sob o argumento de que é uma energia limpa e de que não há opção para nossa sociedade além de esolher o menos pior, no caso, a hidrelétrica.

O criticado em questão ainda pensa sob um velho paradigma de "desenvolvimento"; aquela forma materialista de encarar o "desenvolvimento", como se "desenvolver" fosse continuar crescendo desse jeito: mais carros, mais consumo, mais e mais.

E hidrelétrica não é energia limpa. Inundações de ambientes orgânicos também liberam CO2, assim como as poluentes termelétricas; diz o artigo.

Outro dia pensei também na quantidade de seres vivos que devem morrer nas mega-inundações. Bichos que não são resgatados, pacas, veados, tatus, cobras. Pra que? Pra esse computador funcionar? Não justifica. Vamos achar um outro jeito de fazer. Que seja menos violento e mais harmônico.

...a permacultura busca otimizar gastos energéticos e maximizar o aproveitamento da energia para atender várias necessidades antes que ela se dissipe.

O conceito de zonas da permacultura ajuda a pensar um assentamento humano, tanto no nível familiar quanto a nível de sociedade. Na zona 0, o ambiente em que se passa o maior tempo. Na zona 1, o que é prioritário e precisa estar mais próximo. Na zona 2, aquilo que precisa ser visto todos os dias. Em resumo, a pessoa precisa se posicionar próximo daquilo que mais necessita. E essa afirmação traz implicações globais.




Como é que pode o alimento ser cultivado longe das cidades, onde ele é consumido? É um gasto energético altíssimo. Não é a toa que dependemos de combustíveis fósseis para trazer pra perto de nós o alimento que garante nossa subsistência. E gastamos enorme energia ainda para tirar do subsolo o petróleo que será responsável por transportar nossas necessidades; aquilo de que precisamos e que já não sabemos, nós mesmos, produzir sozinhos - o que é vital para nossa sobrevivência e que ninguém mais sabe fazer com as próprias mãos: alimento, abrigo, um pouco de descanso. Tudo isso foi terceirizado.

...a permacultura? Propõe uma volta que não é um passo atrás, mas um passo a frente numa espiral. Resgatar conhecimentos ancestrais que possam ensinar ao homem, finalmente, que é possível ser inteligente sem romper com a Natureza, ou o Criador, a Fonte.

4 comentários:

Fabiana Mendes disse...

Marina, interessantíssimo o artigo. Gostaria de saber mais sobre permacultura, principalmente aqui em BH. Você teria algum material para me enviar??

Abraços..

marinautsch disse...

Ei Fabi,

tenho aqui um material sobre a EcoVIDA, instituto de permacultura em que eu atuo e que explica um pouco a permacultura...

para aprofundar seguem os links:

http://sitiocurupira.wordpress.com/permacultura/
www.permaculturabr.ning.com
www.ecovidasaomiguel.ning.com

Se quiser mais, me escreva...tem muito mais arquivos.

marinautsch disse...

Obrigada!

Indico o Barueri sim...Inclusive já publiquei aqui no blog uma reportagem de vocês...

EDGANDA disse...

sobre a SERRA DO GANDARELA, qual a verdadeira historia, porque tem este nome. - Eu QUERO fazer parte da luta pela preservação.

Tenho interesse e curiosidade..


Sou EDSON GANDARELA, neto ligitimo de MANOEL GANDARELA ALVAREZ, ' portugues' antigos ocupantes destas terras.